quinta-feira, 7 de maio de 2009

Já dizia o poeta

"Tolice é viver a vida assim, sem aventura...
Deixa ser pelo coração
Se é loucura então melhor não ter razão..."

sábado, 2 de maio de 2009

Humanidade Transbordante

Humanidade transbordante

Depois de queimar muitos neurônios, cheguei à conclusão de que os relacionamentos modernos funcionam, paradoxalmente, como uma maneira de não se relacionar. Um claro exemplo é o fenômeno “ficar” e suas múltiplas variações: ficar sério, ficar por ficar, ficar por uma noite, ficar fixo, ficar com amigo, ficar com sexo, ficar sem sexo, ficar do adolescente, ficar da meia idade, ficar, ficar, ficar...
Este verbo nunca foi tão explorado! Tantas designações comportando um único sentido...
Ainda que incorrendo o risco de cair na armadilha do discurso comum, vale lembrar que a sociedade capitalista - que tem como um de seus pilares o consumo -transformou tudo em mercadoria, inclusive as pessoas. Sim, somos todos produtos ambulantes, usáveis, rotuláveis, descartáveis e com prazo de validade curtíssimo.
Na era da individualidade, não existem encontros de fato.Os muros de vidro refletem a nossa própria face e nos impedem de enxergar além. Tão fascinados estamos com a nossa própria imagem, que não conseguimos experimentar alteridade, e muito menos aprendemos com ela.
Assistimos hoje ao espetáculo do absurdo, no qual, o ser humano tenta se desvencilhar do atributo mais humano que possui, e o torna singular, diferente dos bichos e plantas: a capacidade de sentir, de afetar-se, de amar.
Resta o que então?
Resta o resto do que fomos outrora, resta a negação do que somos na vã tentativa de parecer o que não somos. E se por acaso durante aquela “ficada” despretensiosa a nossa humanidade nos prega uma peça e transborda pelas frestas, deixando transparecer a nossa condição de reles mortais, ficamos envergonhados e frágeis como crianças.Como se fosse errado sentir, como se estivéssemos cometendo um assassinato em série ou promovendo uma hecatombe nuclear.
Proponho levantar agora a bandeira da não rendição, daqueles que se orgulham de ser o que são, dos que não têm medo de sentir, e pagam o preço por sua ousadia. Meus cumprimentos aos corajosos! Àqueles que pulsam, e entre diástoles e sístoles encontram um motivo sempre maior para viver. Àqueles que vivem pra amar e amam até morrer.

Tem que...

Outro dia ouvi de alguém muito querido dizer: “Mulher tem que se arrumar! Essa idéia feminista de que as pessoas têm que gostar de mim do jeito que sou tá errada”.
Baseava sua argumentação no movimento feminista, que levou milhares de mulheres ao redor do mundo a recusarem determinados padrões estéticos, como forma de protesto. Mulheres que não se preocupavam com penteados, roupas, maquiagem...
Tem que – ela disse
Será que tem mesmo? Eu me pergunto.
Eita, expressãozinha autoritária! Não pude evitar o incômodo e tampouco deixar de lembrar que Hitler também achou que tinha que. Bin Laden achou que tinha que.E os pilotos americanos quando lançaram as bombas de Hiroshima e Nagasaki também achavam que tinham que. Muitos cristãos ao redor do mundo acham que todo mundo tem que aceitar Jesus. Será??? Pois, se a própria bíblia nos diz que temos o livre arbítrio?
Pra mim, obrigar alguém a seguir um determinado padrão só porque se acha que tem que é uma bela demonstração de tirania e intolerância. Ninguém tem que nada! Fazemos ou não fazemos segundo nossas próprias escolhas. Devemos apenas ter claro que sempre recolheremos os efeitos destas escolhas. Então, é como diz o poeta : “Cada escolha uma sentença”
Assim como as pessoas não são obrigadas a gostar do que somos, também não devemos ser obrigados a ser o que não somos porque alguém assim o deseja.
Tem que ser quem se quer ser, tem que ter seu livre arbítrio, tem que exercer sua liberdade de expressão, tem que ter o direito de mudar de opinião, tem que ser da maneira que se queira...

Criatividade pra dar e vender!

O povo brasileiro é realmente muito criativo, a cada dia mais me convenço dessa nossa característica tão peculiar. Êta povinho “inventador”!
Outro dia recebi o convite para trabalhar como fiscal de prova para os alunos no ensino médio, o que aceitei prontamente, já que a graninha anda curta e a maré não tá pra peixe.
No local, soube que ficaria responsável por recepcionar as pessoas que começavam com a letra K.
“Molezinha! Em nosso país são poucos os nomes com k". Pensei.
Entretanto, fiquei surpresa ao descobrir que havia um corredor de salas reservado apenas para “o pessoal do K”.`
Putz, foi aí que começou meu martírio! Tortura, chicotada e pimenta nos olhos é pouco pra expressar o meu sofrimento ao me deparar com a lista de presença. Nunca tinha visto tanto k na minha vida. Kethy, Kéti, Keyte, Keite, Kezia, Kissila, Kicila, Ketlin, Ketyline, Keytelyne, Kely, Keyla,Kevin, Kevine, Kevina, Kissivic, Kliper.
O negócio era de dar nó na cabeça. Até personagem de seriado tinha no lugar: Keyte Marroni. Haja criatividade!
Imagine se o k fizesse parte do nosso alfabeto oficial!(nessa época ainda não fazia)
E a coisa não ficou por aí não! Depois de um dia “estremalmente” cansativo. Expressão usada por um aluno em sua prova de redação??!!Sim, eu sei que é feio ler as coisas dos outros, mas...sabe como é, né? Nada pra fazer, as redações na minha mão, não resisti e resolvi ler pra ver a quantas anda o nosso português. Ainda bem que não sou cardíaca! Nunca tive problemas nesta área, mas , diante das circunstâncias tudo era possível.
Já o Aurélio ( o Buarque de Holanda! Que acredito ter morrido de desgoto), certamente se revirou no caixão enquanto eu lia aquelas pérolas da língua portuguesa.
Juventude transviada!Já dizia minha avó...
Como eu ia dizendo, depois de um dia “estremalmente” cansativo, deitei a cabeça no meu travesseiro de penas de ganso, ansiando pelo descanso merecido. Mas, no meio da noite estava sendo perseguida por várias letras gigantes. Nunca pensei que pudessem ficar tão furiosas por serem relegadas à segundo plano durante anos.
Era a revolta das letras, e eu estava sendo acusada de discriminação. Elas queriam saber porque ainda não faziam parte do alfabeto oficial, porque eram rejeitadas pelos brasileiros, exigiam igualdade de direitos e levantavam várias faixas de protesto onde se liam palavras de ordem: “Keremos Dyreytos yguays”, “Não Wamos mays nos calar”, “Vote K,Y, W para o alfabeto”. A situação foi ficando feia, e eu ali, encurralada pelas letras rebeldes.
Os ânimos só foram contidos quando eu prometi que daria aos meus filhos nomes que começassem com a letra k e incluíssem o w e o y. Elas eram solidárias entre si, e não bastava prometer usar uma só!
Tudo bem!
Eu juro diante da nação e da bandeira dos EUA – disse - Vou pensar num nome bem bonito.Kewelyna para mulher e Kwnyo para homem, talvez. Sou brasileira mesmo tenho a criatividade no sangue, inventar um nome assim vai ser molezinha.
Arcordei dando um salto, a boca seca e a testa suando frio.
Salva pelo gongo! Graças a Deus foi só um sonho!

Os "eus"

Chega uma hora em que precisamos descobrir nossos próprios caminhos.
Antes que me ponham palavras à boca, descobrir seus próprios caminhos não significa rebelar-se e renegar tudo que se aprendeu ou viveu, mas lançar-se numa busca constante de si mesmo.
Eu, particularmente, prefiro pensar que o EU de que tanto falamos, é na verdade constituído por muitos.
Somos muitos, ou pelo menos deveríamos ser. É como na famosa casa de espelhos dos parques de diversões, onde encontramos variados “eus”: magros, gordos, altos, baixos...
Tem “eu” pra tudo que é gosto. Tem o tímido que não olha nos olhos e ruboriza ao menor sinal do olhar alheio.Tem o ousado que vai atrás do que quer e ultrapassa seus próprios limites. O raivoso que se irrita por qualquer besteira. Tem o “eu” babaca que fala um monte de besteira numa roda de amigos e morre de rir com suas próprias piadas.Tem o “eu” preocupado. O chefe de família. O “eu” que ama e que sofre por amor. Outro que tem medo de amar.O “eu” amigo, o “eu” irmão, o entediado, o político, o cidadão...
Pensar que somos apenas um é limitar a nossa capacidade de nos metamorfosear, abrindo mão da liberdade de sermos como quisermos, de sermos quem quisermos.
O “eu” não é um objeto que se ponha numa caixa, protegido contra as intempéries do tempo, imóvel, intacto. Não é como um bibelô de porcelana ou uma estatueta que enfeita a nossa estante.
É mutante e mutável.
Somos a cada encontro com pessoas, coisas, lugares, lembranças, acontecimentos...Somos a cada momento!
O triste, é que maioria de nós prefere viver como bichos aprisionados em seu mundo-gaiola, vivendo em seus eus-estáticos, cerceados em suas possibilidades de ser e viver.
É bem verdade que alguns depois de meio século de vida conseguem voar para longe da gaiola, mas são tão poucos... A maioria nem sabe de seu cativeiro e morre sem saber.